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Os andares superiores da alegria

Carnaval 2020 no Rio de Janeiro. Imagem da Internet

A alegria tem sido o tema de muitos tratados filosóficos, peças de teatro e filmes. Também é um grande assunto na Bíblia. O apóstolo Paulo vai ordenar aos filipenses que fiquem alegres, mas a alegria pode ser o cumprimento de uma ordem? Ela tem origem em Deus, no Diabo ou no próprio homem? Ela pode ser ensinada, como se ensina a meditar, a respirar ou a nadar? Existem níveis de alegria? Colocaríamos a alegria de uma pegadinha como nível 1, a conquista de um bom emprego como nível 2 e o nascimento de um filho, nível 3? Seria algo assim? Existiria, neste caso, um nível 7 de alegria?

Existe um subsolo da alegria, quando se alegra com a infelicidade própria ou dos outros, mas não trataremos dele aqui. O nível térreo da alegria é o da realização, da conquista, do esforço. O homem empreende, realiza, e se alegra nisso. Isso explica muito da ligação entre os esportes e a alegria. Não se ganha a partida apenas pela fama ou pelo dinheiro, ganha-se para ficar alegre. Conquista e alegria estão definitivamente relacionadas. Podemos chamar esta categoria de alegria de nível zero, por que comum a todos os seres humanos. Uma quadrilha experimenta alegria porque assaltou um banco, assim também o jovem porque passou no vestibular.

Vamos deixar o debate filosófico e destacar três níveis superiores da alegria numa intrigante palavra do Cristo, registrada pelo Dr. Lucas: “alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” (Lucas 10.20). Observo três alegrias: a da conquista, a da dádiva e a do Espírito. O verso 17 do capítulo citado de Lucas diz que os discípulos de Cristo voltaram radiantes da missão porque tinham percebido o poder de Deus em ação. Há uma particularidade na alegria que os discípulos demonstraram: eles estavam alegres porque os demônios se submetiam a eles “por conta do uso do nome de Jesus”. Então, era um primeiro tipo de alegria: observar como o poder de Deus muda para melhor as realidades decaídas. Onde há trevas, Cristo chega com luz; onde há desordem, a chegada do Evangelho colocar cada coisa em seu devido lugar etc. Observe que esta categoria de alegria já ocorre fora do ser humano. Os discípulos se alegraram porque contemplaram algo, no caso, o poder de Deus.

Ontem à noite, a Lua estava esplendidamente linda. Eu olhei demoradamente para ela e me alegrei. Eu nada fiz para a Lua ficar com aquela beleza toda, mas me alegrei. Recebi como uma dádiva. O Senhor disse aos discípulos que voltaram alegres da missão cumprida e da contemplação do poder Deus em ação: “Alegrem-se, antes, porque seus nomes estão escritos no Céu”. Ora, eles entendiam muito bem que nada tinham feito para terem seus nomes gravados definitivamente no Céu. Era um presente imerecido. Esta alegria, Tipo Dois, parece ser mais rara, mais densa e mais nobre, porque não provoca o orgulho. Eu colocaria aqui, por exemplo, também, a alegria da amizade sincera e, ainda mais, a alegria do relacionamento com a fonte da alegria, o próprio Deus. Neste ponto, precisamos falar da alegria da liberalidade. Quando doamos, experimentamos alegria em um grau mais elevado. Esta é a alegria que sentimos na vitória dos outros. O que Jesus fez foi trazer à consciência dos discípulos a memória de uma segurança eterna, criou neles a imagem de uma vida no Reino de Deus. Mais do que ver a ação de Deus no presente, esta alegria é relacionada à esperança naquilo que Deus ainda fará. Na verdade, isto é definição de fé.

Finalmente, na narrativa do Dr. Lucas há algo ainda mais intrigante. Diz o texto que Jesus Cristo em seguida, verso 21, “exultou no Espírito”. Não foi como se tivesse ganhado um presente, mas como se tivesse sido tomado pelo presente. Ele tinha se recusado a ser possuído pelo Diabo no Monte da Tentação, mas se deixava ser tomado pelo Espírito de Alegria. Isto era algo completamente positivo, um êxtase, uma satisfação da alma. Para ser honesto, era algo indescritível. E qual foi o contexto que fez Jesus Cristo ser tomado pela Alegria? Ele viu a alegria dos discípulos e seus nomes no Céu. Aquele que tinha chorado ao ver o sofrimentos dos amigos e a incredulidade dos homens, agora tem a sua alegria despertada ao ver o futuro eterno dos discípulos. Isto é revelador sobre a fonte da alegria. Ela está fora da pessoa. Alegria é desfrutada principalmente no coletivo, no compartilhamento, na solidariedade. Talvez Deus seja definido com a Alegria por ser trino. O Homem de Nazaré se alegrou na alegria dos seus amigos, ao fazer que outros fossem felizes. Alegrem-se com os que se alegram (Romanos 12.15), ordena novamente Paulo, agora aos romanos. Não é irônico que a luta para conquistar a felicidade pode atuar contra o próprio propósito?

Uma pessoa pode viver, basicamente, pela alegria da conquista. Por ganância, podem sacrificar uma alegria ainda melhor, da amizade, por exemplo. Alguns, por se esforçarem pouco, não se alegram nem na conquista. Outros começam a experimentar a verdadeira alegria ao perceberem a ação de Deus em suas vidas. Como enfatizava um velho pastor: “Felicidade começa com Fé”. Estes são mais felizes à medida que reconhecem, e apreciam, que recebemos mais da vida do que entregamos, talvez na proporção de água em nosso corpo e em nosso planeta. Então, no altruísmo somos um pouco Deus, porque nos alegramos com os outros. Por fim, é na glória de Deus que nos realizamos absolutamente. Ali, na vitória final do Cordeiro, encontraremos, finalmente, a boa parte. Se as alegrias do tipo Zero, Um e Dois entram no ser humano, no caso da alegria tipo Três, o homem é inserido na Alegria. O clímax da alegria está em se perceber dentro da Alegria. Jesus disse ao seus amigos: “Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa” (João 15.11)

Juracy Bahia

3 respostas para “Os andares superiores da alegria”

  1. Excelente texto! Mas vim compartilhar algo que aprendi em um sermão no ano de 2005. Tinha perdido meu pai e estava exausta emocionalmente após longos meses cuidando dele. Tinha perdido meu melhor amigo. Embora nunca houvesse questionado a Deus sobre aquela situação e entendido sua soberania, eu não conseguia ficar alegre. Fui promovida no meu emprego um mês após sua morte, e essa oportunidade era algo que sonhava, mesmo assim não conseguir ter a alegria da conquista. Em um sermão no culto de domingo à noite, o pastor usou o texto de Filipenses 4:12. Quando eu compreendi sobre a importância do contentamento, eu mudei minha visão. Desde então, eu busco viver contente, independente das circunstâncias. Penso que a alegria seja resultado do contentamento.

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