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Um pouco de A boa parte antes de você comprar…

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Anfitrião da esperança

Se um livro nos faz pensar, nós o recomendamos. Se um livro nos faz chorar, nós presenteamos, com ele, pessoas queridas. Se um livro nos faz agir, fazemos dele nosso roteiro de vida. Se um livro nos faz mudar, é porque nos fez pensar, chorar e agir.

Não achamos textos assim com facilidade, na verdade não encontramos livros assim, são eles que nos encontram. Quando menos esperamos, lá estamos nós com o livro nas mãos, totalmente capturados por sua história… tramas… verdades… provocações.

Para nos fazer pensar, um texto precisa ressuscitar princípios, acordar valores, se desdobrar em reflexões, confissões e sorrisos; precisa criar dúvidas, provocar revisões de conceitos e fazer-nos admitir alterar paradigmas cristalizados.

Porém, se um livro nos faz viajar, revisitar recantos, mergulhar nas águas profundas da imaginação e protagonizar enredos de fé, esperança, progresso e vida, vai nos fazer chorar.

Agora, se um texto é tão forte e desafiador, que nos empurra para fazer algo logo, ir a algum lugar, falar com alguém, enviar uma mensagem ou, simplesmente, comprar um presente, mandar flores ou convidar alguém para almoçar, nos fará agir.

Mas, quando a gente sente, enquanto lê um livro, que precisa mudar, vê que o próprio texto nos aponta caminhos, desvenda veredas e encoraja a alçarmos voos em busca de outros horizontes, novos patamares… este livro vai nos conduzir a transformações!

A boa parte é um livro que nos faz mudar.

Veja bem, ele não nos muda… nos faz mudar.

A partir de uma leitura corajosa e inusitada da experiência de Jesus com os três irmãos na aldeia de Betânia, o autor perpassa os caminhos mais sombrios e, ao mesmo tempo, esperançosos, em uma viagem do esforço à glória, na qual as estações do devocional, do milagre e da plenitude guardam surpresas, emoções e aventuras tão sublimes, que a mínima antecipação aqui poderia impedir muito do que a leitura pode dar… Será uma ficção? Sim e não. Você o perceberá durante a viagem.

O que enriquece, de forma generosa, o texto é que Juracy Bahia é pastor, mais que isso, é pastor de pastores; ao mesmo tempo, ele conhece os cheiros de ovelha e de pastor. Este olfato pastoril está impregnado nos tópicos e capítulos do livro. No entanto, o leitor verá que ele é um pastor diferente; este livro não tem nada de religiosidade piegas ou proselitismo barato. Consigo ver o meu amigo Juracy, com quem caminho, há mais de 35 anos, nas entrelinhas e no substrato da obra, ora dialogando com profundo respeito, amor e integridade, com o ser humano do nosso tempo, independentemente de suas crenças religiosas ou da ausência delas, ora confrontando com piedade quem precisa. Para ele, “há mais mentira no mundo da religião do que no político e empresarial juntos”.  É um livro escrito a partir de pessoas, pensando em pessoas, interagindo com pessoas, para ajudar pessoas. Pode acreditar… ajuda mesmo.

A história dos três irmãos, embora empolgante e instigante, não ofusca o visitante ilustre e recorrente, à casa de Marta, em Betânia. Pelo contrário, tudo, e sempre, caminha na direção daquele que alimenta o esforço, atrai à devoção e realiza o milagre. O único cujo brilho nos chama para plenitude e oportuniza a glória. Isso seria teologia prática? Sim e não. Ao seguir os caminhos apontados pelo autor, a resposta surgirá.

Juracy conseguiu escrever um livro que interrompe o fôlego e instiga o leitor ao suor e às lágrimas. Leitura indispensável tanto para quem inicia a jornada, quanto para os que estão exaustos de tanto escalar a montanha, como também para os que já alcançaram seu cume. Um texto importante, oportuno e único. Um, porque não há nada que importe mais do que aceitar o desafio de saltar mais alto, mesmo quando a ‘barra é puxada mais pra cima’; outro, porque o tempo de crescer e amadurecer é agora. Para muitos… agora ou nunca; e ainda outro, porque, na literatura do gênero, a gente não encontra abordagem paralela. Até mesmo em função do modo como o autor articula sua própria experiência, na linda família que formou ao longo da vida, nas amizades e no ministério, fazendo-a interagir o tempo todo com a família de Betânia. Terá sido autobiográfico o texto? Sim e não. Entenda o leitor ao aventurar-se pelas páginas que se descortinam na jornada que segue. Há de concluir que também o ‘melhor dia de sua vida ainda vai acontecer’.

Juracy acredita em dias melhores, em dias melhores para todos. Não apenas acredita, como se propõe a guiar-nos a eles. E é assim, como anfitrião da esperança, que ele nos brinda com este texto que nos faz mudar.

Leia e mude.

Lécio Dornas

Orlando, Flórida, verão de 2020.

Apresentação

Esta é a história de três irmãos que viviam em uma pequena vila em Israel: Marta, Maria e Lázaro. Eles ficaram famosos por conta de um hóspede regular que amava visitá-los: Jesus de Nazaré. Quando a história desses três irmãos de Betânia é tratada, quase sempre se privilegia Maria, que teria escolhido “a boa parte”, em detrimento de Marta, e muito pouco se considera a respeito de Lázaro. 

Veremos mistérios, curiosidades e muita matéria para reflexão. Os três primeiros capítulos irão nos apresentar as três dimensões da vida, ilustradas por Marta, Maria e Lázaro, preparando-nos para os dois últimos, sobre a vida plena e a glória. Leia este livro marcando pontos para uma releitura mais cuidadosa. Se eu pudesse sugerir, eu diria que ele deve ser lido, preferencialmente, em momentos que antecedem grandes mudanças de vida. Sim, antes de arrumar a despensa, precisamos construir prateleiras, e imagino que esta leitura ajudará neste propósito. Um dos revisores comentou: “O propósito era revisar o livro, e acabei revisando a vida”. 

Embora o texto tenha a sua sequência, como se narrasse uma caminhada guiada por um mapa, ele foi dividido em tópicos, para facilitar a reflexão e os debates. Procurei escrever cada tópico como se fosse um memorial para desdobramentos futuros. Espero conseguir provocar você, como tenho sido provocado, à medida que escrevo, ou ainda mais. 

Introdução

Convivemos com muitos mistérios. Muitos são os que imaginam ter descoberto explicações para tudo a partir de isolados detalhes. Um rabisco em uma caverna se torna base para livros e mais livros. Exageros à parte, parece mesmo que Deus escondeu coisas e nos entregou mapas para procurá-las. Esses “mapas” estão cheios de imagens, tipificações, amostras e sinais que permitem novas descobertas. Eu confesso certa paixão por mapas. Se minha esposa está olhando produtos em uma loja, por exemplo, você me encontrará examinando qualquer mapa disponível, procurando decifrar onde estou e a localização das coisas. Imagino este depoimento do apóstolo João como um mapa: […] “Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro”. Vale a pena passar algumas horas sobre essa declaração.

O nome Marta provavelmente significava senhora, aquela que tem a responsabilidade sobre pessoas ou sobre uma propriedade, o que é bastante adequado para o seu papel em nossa história. Era de sua natureza tomar iniciativas administrativas.

O significado do nome Maria é incerto. Pode ser a que se eleva, pura, senhora soberana, amar. O fato é que ele vem de Miriã, irmã de Arão e de Moisés, outros três irmãos, cuja história é, igualmente, cheia de simbolismos, mas isso é assunto para outra hora. 

O nome Lázaro, ou Eleazar, provavelmente significa aquele a quem Deus ajuda. Esse nome também esteve envolvido neste outro trio que libertou o povo de Deus da escravidão do Egito. Era o nome de um filho de Arão, sobrinho de Moisés e Miriã. Também assunto para outro momento. 

Não é por acaso que a história de Marta, Maria e Lázaro é recontada por milênios. Quando os fatos ocorreram, já havia uma indicação de que algo especial estaria acontecendo ali. Encontramos o próprio Jesus de Nazaré testemunhando sobre Maria, ao dizer: “Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua”. 

O fato é que existem padrões que nos ajudam a perceber as realidades natural, espiritual e sobrenatural. Para exemplificar, veja o caso dos números dois e três. O número dois é um padrão universal e fala da natureza, da realidade que pode ser percebida com visão, audição, paladar, olfato e tato. Há pares de homens, de bichos, de olhos e de astros. Já o número três é usado para descrever coisas mais abstratas e que exigem discernimento. Quando Deus se apresenta, ele é Trino; quando Deus liberta seu povo da escravidão, realiza o milagre da travessia do Mar Vermelho e o leva à Terra Prometida, ele usa um trio de irmãos: “Eu o tirei do Egito, e o redimi da terra da escravidão; enviei Moisés, Arão e Miriã para conduzi-lo”. Convivemos com vários padrões e podemos perceber realidades invisíveis a partir deles. Esse é um exercício empolgante.

Três também parecem ser as dimensões da vida. As realidades descritas pelo número três precisam ser entendidas, percebidas com a mente e com a alma. Temos consciência de que existimos. Não somos dois, somos mais, somos três. Jesus ama o número dois, mas ama ainda mais o três. Quando Deus criou o mundo, viu que era BOM; mas quando criou o ser humano, viu que “era MUITO bom”. 

Marta corria para cá e para lá cuidando de alimentar tantas visitas, quando Jesus fez a famosa advertência: Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”.

Para conhecermos o terceiro irmão amado, Lázaro, teremos de recorrer ao capítulo 11 do evangelho de João. Por meio desse texto, descobriremos que ele estava enfermo, era amigo de Jesus, era o “assunto do dia”, morreu e foi ressuscitado, e que, por conta do seu testemunho, muitos passaram a crer em Jesus Cristo, enquanto outros, pelo mesmo motivo, pretendiam matar o Salvador, e também a Lázaro. Por fim, no capítulo 12, o apóstolo João fala de Simão − o leproso − vizinho dos três irmãos, em cuja casa Jesus é ungido por Maria.

Jesus entrou na história desses três irmãos, e nós também entraremos. Existem muitas coisas para serem descobertas nessa singela e rica história. Vejo um mapa especial à nossa frente e, como dizia a minha professora de geografia, “comece pelo mapa-múndi”. Na verdade, nunca conseguiremos entender a tal boa parte que Maria teria escolhido, se não observarmos toda a história. Um antigo professor de Metodologia da Pesquisa costumava dizer: “Dê valor às introduções dos livros e adquira uma visão global da obra antes de realmente iniciar a leitura”. Por que se esquivar dessa dica metodológica? Sem dúvida, a aprendizagem acontece melhor do geral para o particular. A história desses três irmãos amados precisa ser lida como um quadro geral − um mapa-múndi. A partir dela, teremos os encaixes necessários para, organicamente, enquadrar as demais coisas.

O esforço

Usamos a palavra esforço para definir o universo da vida humana, do nascimento à morte, o temporal, o terreno. Não é a dimensão apenas dos músculos, porque nos esforçamos também emocionalmente, mentalmente e sinergicamente. Essa dimensão representada por Marta inclui todas as nossas forças, nosso ser inteiro. Depois, temos o coletivo, quando nos juntamos a outros − no casamento, no Estado, na empresa etc. Por fim, inclui ainda a sinergia produzida pela combinação do ser humano com as forças da natureza. Que fantástica é “toda a criação de Deus”. Estamos por descobrir sua extensão e beleza. Jesus amava Marta.

Disfunções no esforço

O fato é que tem algo terrivelmente errado. No momento que escrevo este texto, os canais de televisão estão cobrindo uma tragédia ocorrida em uma escola municipal em São Paulo. Dois jovens entraram atirando, mataram oito alunos e cometeram suicídio. Uma repórter comenta que os pais, os alunos e os funcionários precisarão de muito atendimento psicológico. Ninguém nega isso, claro. O que chama a atenção é a completa ausência de uma palavra, como: “Várias dessas vítimas estão encontrando algum conforto em sua fé”. A repórter sabe e vê muitas pessoas sendo atendidas por suas respectivas igrejas, mas faz a reportagem como se o fator fé não fizesse parte da vida comunitária. E aquela capacidade de achar o negativo em quase tudo? Se fossem dirigir um filme, o título seria: “A vida é feia”. 

Momentos Tripalus

O esforço passou a ter o seu lado feio, muito feio. A palavra trabalho deriva de tripalus − literalmente: três paus; uma ferramenta de três pernas que imobiliza cavalos e bois para serem ferrados, e é também o nome de um instrumento de tortura usado contra escravos. A história da humanidade está cheia de discriminação, machismo, escravidão, exploração, tortura e estupro. 

Quando visitei o antigo campo de concentração em Auschwitz, na Polônia, pude ver a famosa frase no portão por onde entrava o trem de ferro com os judeus.  A frase dizia: “O trabalho liberta”. Poucos metros à frente, a linha do trem terminava. Dá um nó no estômago quando somos lembrados do tamanho da distorção que conseguimos fazer com o conceito do trabalho. 

Há esses casos extremos de uso da força, que parecem coisa de demônios, e os individuais, como um estupro, que não deixam de parecer coisa dos mesmos demônios. Entretanto, esse lado feio não é exclusividade de alguns ou apenas de quem acumula ou recebe muito poder. Até mesmo em situações de pobreza, fraqueza ou miséria, encontramos pessoas explorando e oprimindo outras. Achamos que as nações menos desenvolvidas são exploradas por nações imperialistas. Isso ocorre também, mas os maiores exploradores estão entre os próprios nativos. Desde Caim, matamos os nossos irmãos. E, por mais difícil que seja para aceitar, o nosso momento tripalus está diretamente relacionado aos nossos erros. Quanto mais errados estamos, mais batemos em quem queremos amar.

É muito difícil ler a nossa história de opressões e discordar do ensino bíblico de que somos todos pecadores. Lutamos contra os conceitos do dia do descanso e do perdão de dívidas; queremos que os despojos da guerra sejam distribuídos somente entre os que lutam. De algum modo, toda a riqueza que manipulamos, incluindo os trocados que temos no bolso, é fruto de injustiça.

Uma Marta afadigada ilustra o que chamamos a dimensão do esforço. Ela estava inquieta com Maria. Achou que a irmã “não fazia nada”. Não é à toa que a morada dos três irmãos era conhecida como a casa de Marta. Normalmente, quem administra fica conhecido como o dono. Tudo estava bem, até que Marta começou a fazer exigências e questionar o Senhor. Quando administramos, por muito tempo, o que também é dos outros, temos a tendência a agir como se fôssemos os únicos donos. É assim que acontece em uma casa, no time de futebol, em um condomínio ou na empresa. Isso ocorre também com os nossos hábitos. Quem é muito organizado e metódico, por exemplo, passa a exigir que os outros também o sejam. 

Nosso momento tripalus ocorre quando olhamos para o irmão como alguém que precisa obedecer a nós, cumprir tarefas e fazer coisas; não como quem precisa cumprir uma vocação, ser o que nasceu para ser. E Marta falou em voz alta o que pensava. Esqueceu, por um instante, que poderia constranger a irmã diante dos outros. É quando o esforço perde a beleza. No esforço, podemos facilmente oprimir outros.

Preciso de disciplina para não forçar situações como se dependessem exclusivamente de mim: “Não por força, nem por violência”, disse o profeta Zacarias, cerca de 5 séculos antes de Cristo. Não colar no carro à frente; não ajudar o outro a responder a pergunta; não telefonar repetidas vezes; não abordar alguém quando sei que o horário ou o local são impróprios; não contar a mesma coisa duas vezes; não cobrar antes que o outro esteja definitivamente atrasado; não proteger demais. Em lugar de “sim” ou “não”, por que não deixamos o outro tomar a decisão? Por que não usamos com maior frequência: “Eu não sei”? Por que não tiramos férias de verdade e, se possível, longe? Por que queremos controlar e moldar as coisas e as pessoas? Por que não damos espaço para o outro dizer “não” e testar uma ideia diferente? Por que não concedemos ao outro o direito de ficar sozinho, seja para curtir sua tristeza, refletir ou simplesmente desfrutar o belo? Como disse, certa vez, o rei da Espanha, Juan Carlos, ao falante ex-presidente da Venezuela, Hugo Cháves: “Por que não te calas?” Por que não deixamos o tempo fazer o trabalho dele em paz?

Quando somos muito fortes em uma área, podemos forçar situações e fazer as coisas funcionarem antes do tempo. Não parece estranho que o tempo para o abate de um frango tenha sido reduzido de 90 para 40 dias? Agora, no mundo inteiro, cresce o interesse pelos produtos orgânicos. Estamos duvidando da “normalidade” de nossas práticas. Podemos estar forçando muitas situações, e algo me diz que a conta nos será apresentada. 

O esforço pode matar, às vezes, literalmente. É preciso trabalhar seis dias, mas é igualmente importante descansar o sétimo. 

O progresso é inquestionável, mas o homem não está mais feliz. “Alguma coisa está errada”, como afirmou Virginia Brasier: 

“Esta é a era da página lida pela metade. Do comer às pressas […] Da mente esgotada, do coração enfermo, das noites mal dormidas. Até que uma engrenagem quebra e a festa acaba”. 

Ineficiência

O problema do esforço não está apenas no uso excessivo da força. Podemos, por outro lado, trabalhar para retirar o esforço da vida e demonstrar falta de empreendedorismo. Paulo, missionário cristão do primeiro século, escrevendo aos cristãos na Grécia Antiga, chega a instruir que “se alguém não quiser trabalhar, não coma também”. Depois de muito tempo usando apenas parte do potencial, ou agindo fora de configuração, da vocação, abaixo da capacidade ou dos dons, a pessoa pode se esquecer de que existe uma proposta alternativa de vida. Ela corre o risco de assimilar esse status como se fosse a própria identidade. “Eu sou assim, não tem jeito”. Estão satisfeitas dormindo menos, aceitam que seu nome fique sem crédito na praça e recusam-se a obedecer às leis da disciplina.

Há também quem se dê por satisfeito simplesmente porque está em atividade. Entretanto, podemos estar em uma atividade errada, estéril, pecaminosa ou opressora. Um carrasco, um corrupto e um patrão explorador talvez se sintam orgulhosos de trabalhar muito. Assim também, alguém com o dom de socorrer ou ensinar é capaz de se dar por satisfeito cuidando apenas de questões administrativas, quando poderia exercer um grande ministério, na igreja ou na sociedade. Ele está trabalhando, mas pode não estar cumprindo seu propósito na vida.

Há um risco permanente de desvio de rota. Não sou um “leitor de vocações”, mas compreendo que muitas pessoas caminham, longos anos ou a vida inteira, fora do seu trilho. Conheci um jovem que, em poucos minutos, conseguia tocar um instrumento musical que nunca tinha visto antes. Era impressionante sua habilidade com a música, mas ele se dedicou à programação de softwares. Conheço gente que, em minha opinião, deveria ser pastor, mas decidiu exercer outras funções, como também conheço pastores que seriam muito mais felizes e prestariam mais serviços ao Reino de Deus se abandonassem o ministério e decidissem ser ótimos profissionais em outra área. 

Estamos longe da excelência. Falhamos o tempo todo e precisamos ter consciência desse fato. Quando Patrícia, nossa filha do meio, estava com seis ou sete anos, briguei com ela por algo errado que tinha feito. Ela argumentou: “Mas, papai, o humano é errar”. Ela “apenas” inverteu a ordem do ditado popular “errar é humano”. O que constatamos, diariamente, é que as pessoas vivem falhando. 

Gastamos muita energia resolvendo problemas que os outros criam. Não seria melhor considerar a lei de Murphy?:

Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento, e de modo que cause o maior dano possível.

As coisas podem piorar, você é que não tem imaginação.

Os homens estão sempre inventando novas formas de pecar.

Talvez eu devesse chamar essa nossa dimensão de a dimensão do erro. Depender apenas do meu esforço já é muito arriscado. Por que, então, submeto-me, deliberadamente, a depender da sorte ou dos outros?

Todas essas disfunções, claro, cobram o preço, cedo ou tarde, e talvez achemos que Deus está castigando, ou seja, espiritualizamos as coisas. Acredito que, na maioria das vezes, colhemos as consequências da quebra das leis naturais da dimensão do esforço, e elas, por serem naturais, não exercem misericórdia.