Humildade, basicamente, é importar-se com os outros. Uma dimensão mais avançada é vista no homem devocional. Erroneamente buscada, a humildade é também um campo de batalha de forças espirituais.
Ser humilde é ser honesto e agradecido com as próprias limitações e com o potencial dos outros. Aprendemos a ter mais compaixão e a considerar os interesses dos outros no convívio comunitário. Por isso, alguém concluiu que “O teste definitivo do caráter é a maneira como alguém trata quem não pode fazer nada por ele”. A humildade é sabedoria que permite enxergar melhor a realidade, obscurecida e distorcida pela vaidade.
A segunda dimensão da humildade é um dom, uma operação divina que troca o coração de uma pessoa. O Espírito Santo age neste mundo para moldar o caráter humilde. Isto explica muitas das tribulações pelas quais passam os crentes. Um seguidor do Jesus de Nazaré arrogante é uma discrepância, bem como se ele é humilde apenas como um não crente consegue ser (Mateus 5.20). Em outras palavras, somente o homem convertido pode ser humilde nos termos dos cristãos primitivos.
A terceira dimensão da humildade é a combinação das duas primeiras, e é percebida no andar com Jesus. Humildade devocional é a decisão de se alegrar com a própria vulnerabilidade para destacar o poder de Deus (João 3.30,31; 2 Coríntios 12.10), é recusar glórias que são devidas somente a Deus (atos 10.26; Apocalipse 22.9). Enquanto na primeira etapa a humildade é a consideração pelos interesses do próximo, esta inclui consideração pelos interesses do Senhor. Se a primeira é empatia, esta é a busca daquele “sentimento que havia em Cristo Jesus” (Filipenses 2.5). Se antes havia consciência da própria limitação, agora há certeza da inexistência da humildade própria e uma busca pela humildade que há em Jesus.
E, mesmo sendo um assunto de nossa rotina diária e de toda a vida, é comum mantermos visões equivocadas sobre a humildade. Muitas vezes consideramos alguém humilde apenas porque aparenta simplicidade em seu modo de vida ou um comportamento ingênuo. Repetindo, humildade é a virtude de levar os outros em consideração, de se importar com os outros, de se entender interdependente. Não somos humildes, apenas decidimos exercer um papel: “seja como uma criança”, ensinou Jesus (Mateus 18.3).
Podemos interpretar erroneamente a relação da humildade com o mundo sobrenatural. Agir como se Deus ou o diabo não existissem é um tipo de arrogância. Uma pessoa humilde também não abre mão da ajuda do alto e não desconsidera conselhos de eficácia comprovada como: “o princípio da sabedoria é o temor a Deus” (Provérbios 9.10). Os crentes também precisam estar atentos: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pedro 5:8). Quanto maior o potencial que uma pessoa glorificar a Deus, mais ela será alvo dos sofisticados métodos daquele que deseja ser Deus. O Deus da manjedoura é sempre perseguido.
Também erramos na interpretação do que seja humildade no campo devocional. Alguém pode ser considerado um fanático porque resolve deixar seus problemas nas mãos de Deus. Outro pode confundir inércia com confiança em Deus. Dizer “Se Deus quiser” parece humildade, mas pode ser também procrastinação ou, mesmo, fatalismo. Como destacado no livro A boa parte, o esforço e a devoção são de uma mesma família. Jesus disse para termos o melhor da pomba e, também, o melhor da serpente (Mateus 10.16). O fato é que a devoção aperfeiçoa a atitude de humildade de quem crê.
Observa-se que as dimensões da humildade se complementam. Ela é desenvolvida na convivência comunitária, é intervenção sobrenatural, e é fruto do discipulado, ou seja, do andar com Jesus.