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O espírito de Judas – Entre discípulos e opositores de Jesus

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Há pessoas que seguem o Caminho conosco, mas trabalham com os que se opõem a Jesus. Se vincular a Igreja com a política partidária é triste, o que dizer da tentativa de vincular a Igreja a uma ideologia hostil ao Evangelho? Bom, conhecemos o resultado: Judas, em crise, sente-se deslocado junto aos discípulos, os opositores renovam seus planos de perseguição aos valores do Reino e a Igreja continua sua gloriosa missão. 

Acontece que Judas é mais que um indivíduo histórico; é um espírito, evidenciado nos tempos bíblicos, na experiência de todo líder pastoral e na sociedade democrática atual. “Temos Marta, Maria e Lázaro dentro de nós, mas, se observarmos bem, veremos que há também um Judas. Algo em nós busca a boa parte e algo beija o amigo enquanto o trai pelas costas. Nosso desafio é enforcar o Judas que há dentro de nós. Talvez, diariamente” (A boa parte). “Enforcar” esse Judas dentro de nós exige reconhecer, confessar e abandonar suas práticas. A seguir, alguns exemplos:

  1. Murmuração, desencorajar a unidade do povo de Deus.
  • “Moisés não deveria ter planejado nos tirar do Egito. Sim, isso é ideia dele. Agora, tudo vai ficar ainda pior”.
  • “Os que se acham enviados por Deus são insensíveis aos preciosos valores da sociedade”.
  1. Demagogia, oferecer soluções sem considerar o custo delas, falsa piedade.
  • “Se eu fosse o rei, eu ouviria a sua causa” (Absalão aos insatisfeitos com Davi).
  • “Por que este perfume não foi vendido, e o dinheiro dado aos pobres” (João 12:5).
  1. Disfunção crítica, perceber mais facilmente o defeito no exterior – o inferno é o outro.
  • Judas interpretou como erro a oferta de perfume feita por Maria, mas não percebeu a ganância entranhada no próprio coração.
  • “Será que o Senhor tem falado apenas por meio de Moisés?” (Miriã e Arão – Números 12:2)
  1. Materialismo, exaltar o terreno com desvalorização do devocional.
  • “Maria deveria ter vendido o perfume e distribuído o dinheiro aos pobres”.
  • “Se outros ganham, mas eu não, é melhor que ninguém ganhe”.
  1. Intolerância. Violentar o tempo e  os métodos de Deus.
  • Pedro corta a orelha de um policial.
  • “Não dá tempo para orar, refletir e ouvir conselhos; tenho que postar minha opinião imediatamente; não importa se vai ferir aquele idiota”.
  1. Corrupção, misturar-se estrategicamente com opositores do Evangelho para criar pontos de cumplicidade.
  • Judas vende aos adversários a proximidade que tinha com Jesus.
  • “Não se assustem com a Igreja. Eles não se entendem nem entre eles mesmos” (Um crente procura ganhar o coração de políticos hostis ao Evangelho).
  1. Desvio, trabalhando com ousadia contra o acordo feito pelo grupo.
  • Os seguidores de Jesus formaram um consenso para que os apóstolos distribuíssem seus bens, mas Ananias e Safira concordaram em reter uma parte do que tinham.
  • “A maioria dos brasileiros é contra o aborto, mas ajudar quem luta contra é discriminação”
  1. Rebeldia, acreditar num governo que concorra com o de Cristo.
  • O anticristo usa um discurso político-religioso para atrair os discípulos do Senhor.
  • “Desejo que me dês agora mesmo a cabeça de João Batista num prato” (Filha de Herodias ousa contra um pregador que já estava preso – Marcos 6:25)
  1. Incorrigibilidade, resistir à mudança, deixar de aprender, inflexibilidade, deixar de acreditar na graça do recomeço, falha no discernimento.
  • Até a morte, a cosmovisão e caráter de Judas não se alteram.
  • “O meu partido tem os mesmos propósitos de quando foi formado”

Examinado o “espírito de Judas”, podemos reagir positivamente (*):

a) Aceite a possibilidade do pecado no próprio coração. “William Barclay lembra as palavras solenes que Cromwell dirigiu aos escoceses intransigentes: ‘Rogo-vos pelas ternas misericórdias de Cristo: pensai que é possível que estejais enganados’” (As Obras da Carne e o Fruto do Espírito).

b) Combata o “espírito de Judas”, mas não o irmão dominado por ele. Afinal, “… ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: ‘Jesus seja amaldiçoado’; e ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, a não ser pelo Espírito Santo” (1 Coríntios 12:3). Jesus amava a Marta (Lucas 10.40-42; João 11.5).

c) Cuide da coletividade. O Judas em cada um de nós é mais estimulado no ambiente onde o egoísmo é mais recompensador que o altruísmo ou a passividade. Se na equipe de Jesus surgiu um Judas, quantos Judas estão sendo formados em nossas equipes?

d) Reforce seu voto de não se misturar com o mundo e com a carne. É perigoso relativizar a distinção que a Bíblia faz entre a Igreja e o sistema do Século. Vamos ao mundo para transformá-lo, não para nos amoldar a ele. Não é impactante que o Antigo e o Novo Testamentos terminem com palavras que destacam os que pertencem a Deus?

“Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem” (Malaquias 3:18).

“A graça do Senhor Jesus seja com todos. Amém” (Apocalipse 22:21).

e) Invista em conhecer o olhar e a voz de Jesus. Pedro e Judas eram pecadores, mas Pedro soube distinguir o olhar e a voz do Senhor. Não é possível conhecer todas as cédulas falsas, mas precisamos identificar a verdadeira. É certo que vamos errar; a questão é onde vamos terminar.

Juracy Bahia

(*) Leia também o tópico “Disfunções do esforço” no livro A boa parte

Deus não ama [apenas] crente, Deus ama gente.

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A Bíblia diz que Deus amou o mundo, mas preferimos entender que ele amou a Igreja. A Bíblia diz que Deus amava Marta, amava Maria, e amava Lázaro, mas achamos que ele amava apenas Maria. Dividimos a vida em partes para, então, criticar o que não gostamos. “Com a língua bendizemos o Senhor e Pai e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procedem bênção e maldição.” (Tiago 3:9-10 NVI).

Tiago termina o verso acima dizendo: “Meus irmãos, não pode ser assim!”. Somos um planeta com oito bilhões de pessoas. Nunca tivemos tanta gente morando neste “pálido ponto azul”. É desses bilhões, e ainda todos os que já viveram e os que ainda nascerão, que fala João 3.16: “Deus amou o mundo”. Deus não ama [apenas] crente, Deus ama gente.

Podemos entender o compromisso que Deus tem com aquele que faz um pacto com ele. É coisa de pacto assumido entre as partes e não de privilégio, especialmente se a oportunidade é oferecida a todos. Também, é natural esperar reciprocidade se você cuida dos assuntos de Jesus. Um filho companheiro, que ajuda os pais, terá um tratamento diferenciado, inclusive com broncas diárias (leia o tópico “A preferida”, em A boa parte). Entretanto, a Parábola do Filho Pródigo afirma que todos os dois filhos são amados e que há esperança no retorno daquele que deixou o aconchego do lar.

Quando escolheu Abraão e quando retirou o povo de Israel do Egito, Deus o fez com o propósito de abençoar todas as nações. O propósito do seu amor sempre foi a humanidade toda. Ele quer abençoar todas as famílias da Terra. A raiz do propósito da instituição do povo de Israel é a mesma da instituição da Igreja: abençoar todo o mundo. Israel e a Igreja são instrumentos de um plano de salvação de todas as pessoas. 

A prioridade para os santos, demonstrada na Bíblia, não significa exclusividade. A visão de que Deus tem olhos somente para os crentes é estranha. Deus usa religiosos e usa não religiosos para beneficiar o ser humano. 

Deus não trabalhou apenas para que Israel se tornasse monoteísta diante de um mundo politeísta. Deus trabalha para que o mundo inteiro o entenda como o único Deus verdadeiro. Deus escolhe alguns para serem um convite aos outros. E quando ele permite algum privilégio ao seu seguidor, diante dos não crentes, não é para a glória do fiel, mas para mostrar uma opção melhor aos outros.

Observe um exemplo: quando Jesus comentava os mandamentos dados a Moisés, ele disse: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2: 27 NVI). Se imaginarmos que o sábado representa, de algum modo, a religião dada por Deus, então podemos entender que os mandamentos foram dados para o benefício do ser humano, e não para sua condenação. 

“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3: 16)

Juracy Bahia

A intercessão na vida de crentes normais

Sempre ouvi de intercessores que passam horas em oração e jejum e, então, eu ficava com aquele sentimento de desconforto, quase de culpa. E imagino que eu não estou sozinho. O certo é que, salvo poucas exceções, nunca seremos “gigantes” da oração. Somos crentes “normais”.

Não somos esses gigantes, mas amamos a Jesus, a sua Igreja, vibramos quando pecadores aceitam a Jesus e, todos, queremos orar mais. O que podemos fazer para atender a esse desejo de nosso coração, mesmo com as nossas limitações?

Bom, observamos que, mesmo sendo crentes regulares, todos nos derramamos diante do Senhor quando a necessidade bate à porta. “Orem por nós. Orem por nós”, foram as últimas palavras da comissária Betty Ong, momentos antes do voo 11 da American Airlines colidir contra a Torre Norte do World Trade Center, às 8:46 do dia 11 de setembro de 2001. A consciência de necessidade e de urgência é fundamental para nos impulsionar à oração mais intensa. Precisamos nos esforçar para conhecer as reais urgências, nossas, dos outros e do Reino.  Uma imagem mais realista sobre nossa fragilidade e vulnerabilidade nos fará clamar com intensidade, como entendeu o apóstolo Paulo: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24-25).

Podemos nos informar melhor sobre as necessidades dos outros – vizinhos, colegas de trabalho, membros da nossa igreja. Certamente poderíamos fazer algo e iríamos orar por eles. E o que dizer de quase oito bilhões de pessoas que não sabem separar a mão esquerda da direita e que seguem como que para um matadouro. “Se vir o seu irmão pecar, ore ao Senhor” (1 João 5.16).

E o que sabemos sobre as necessidades do Reino? Por exemplo, unidade e santidade da igreja, as pregações do pastor, recursos espirituais para a uma nova igreja, irmãos perseguidos etc.

Estas questões estão, certamente, no coração de Deus e ele quer conversar conosco sobre elas e sobre seus planos de ação. “E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; porém a ninguém achei” (Ezequiel 22:30). Todos queremos, inclusive Deus, conversar com amigos sobre as grandes decisões que estamos para tomar. “Jesus sofria porque sabia exatamente o que estava para acontecer. Então, o Mestre os acordava para orar e os advertia, porque o espírito queria, mas o corpo (esforço) era fraco. Observemos as palavras ‘o espírito queria'” (A boa parte, p. 279). 

Somos filhos de Deus e estamos envolvidos na luta dele. Estamos no tabuleiro da vida e não adianta negar o nosso papel. Até porque, se nada fizermos, ainda assim seremos atacados. Não somos civis a serem protegidos, somos os soldados, somos alvos do inimigo. “Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (João 15:20). E, como soldados, temos armas que precisam ser usadas. Estamos conscientes do poder da oração?

Neemias era um crente normal. Ao saber que Jerusalém estava destruída, os muros derrubados e os portais da cidade queimados – eles representavam a glória do Senhor – Neemias buscou a Deus com grande fervor. Coração, eu já tenho; o que eu preciso é fazer com que as informações adequadas cheguem à minha mente.

Podemos, finalmente, investir em disciplinas espirituais. Elas são gatilhos de proteção contra as fraquezas naturais. Um plano de leitura da Bíblia, bons hábitos de oração (Daniel orava três vezes ao dia), rotina devocional familiar, “a sós com Deus”, recolher pedidos de oração,  regularidade nos cultos públicos, participação num Pequeno Grupo e um diário de oração podem ajudar a atender o que deseja o nosso coração: uma vida de oração mais intensa. Possivelmente, o “estar juntos” com outros intercessores seja o fator que mais nos estimula à oração. “[…] levantaram juntos a voz a Deus” (Atos 4:24). “Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus” (Mateus 18:19).

Mesmo sendo crentes regulares, podemos fazer melhor. “E em meio a toda essa imensa apostasia, Deus levantou um homem; não uma comissão, nem uma nova denominação, nem um anjo, mas um homem, com sentimentos semelhantes aos nossos. Deus procurou entre eles um homem, não para pregar, mas para se colocar na brecha. E, como Abraão fizera antes, agora Elias estava na presença do Senhor. O resultado foi que tempos depois o Espírito Santo pôde escrever a história dele com apenas duas palavras: ‘E orou’. Isso é tudo que uma pessoa pode fazer para Deus e para a humanidade. Se a igreja hoje contasse com tantos intercessores quantos são seus conselheiros, teríamos um avivamento dentro de um ano.” (Porque tarda o avivamento. Leonard Ravenhill).

Juracy Carlos Bahia

A lei do empoderamento (dos outros)

Imagem de Internet

Antes de ler este tópico, sugiro que leia As três alegrias. Será oportuno, ainda, ler o tópico “Obediência”, do livro A boa parte, p. 237, onde destaco a frase: “É vergonhoso que nossa motivação para trabalhar nos projetos que levam o nosso nome seja exageradamente maior do que aquela que nos leva a trabalhar em projetos de uma equipe”.

Quando Marta tentou forçar Jesus para que mandasse Maria ajudá-la nos serviços domésticos, ela estava humilhando a irmã. Maria deve ter se encolhido de vergonha. Acontece que Jesus não seguiu no jogo de Marta. Pelo contrário, ele empoderou Maria: “Ela escolheu a boa parte”, disse ele em voz alta para que Maria também ouvisse. Um pequeno silêncio dominou a sala e Maria se alegrou com a dádiva recebida.

Antes de realizar e conquistar, nossa vocação é empoderar outros, fazer outros fortes. Gosto muito de ouvir Give Thanks, de Henry Smith, especialmente o trecho: “Diga o fraco: eu sou forte”. Imagino Jesus Cristo fazendo isso todo o tempo, e ainda me estimulando a fazer o mesmo com os outros.

Empodero as pessoas quando fortaleço o fraco, estimulo o desanimado, valorizo as boas práticas e escolhas dos meus filhos, alunos e amigos. Empodero as pessoas, não apresentado-as aos importantes e famosos deste mundo, mas quando as apresento ao próprio Poder, em oração. Empodero pessoas quando as capacito para serem o que vieram a ser neste mundo, quando colaboro para que se tornem bons discípulos de Jesus, não discípulos meus. Empodero pessoas quando meu discurso é positivo e assertivo, quando falo, escrevo e compartilho “apenas a que for útil para edificar os outros” (Efésios 4.29)

Como é incrível a lei do empoderamento dos outros! Em 2001, eu li Retorno à Santidade, do Dr. Gregory Frizzell. Coloquei no meu coração divulgar os livros dele no Brasil. Em vinte anos, cerca de 700 mil livros deste humilde servo de Deus foram vendidos no Brasil. Eu não conseguiria isso, mesmo que escrevesse um livro equivalente e empregasse a mesma energia na divulgação. Quando eu trabalho para mim mesmo, eu posso conseguir muito, mas quando eu trabalho, especialmente “atrás das cortinas”, para empoderar os outros, eu consigo muito mais. Esta é a lei do empoderamento, que eu poderia chamar também de “a lei de João Batista”: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). E aqui, o reino da boa parte prevalece, porque empodera os servos, enquanto o reino das trevas empodera os egoístas.

A verdade é que temos e ensinamos os outros a terem um projeto de poder. Mas, quem acabou se tornando o maior de todos os nascidos de mulher foi João Batista, exatamente aquele que entendeu que vocação era falar do outro e não de si mesmo. “Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.42-45).

Juracy Bahia

Os andares superiores da alegria

Carnaval 2020 no Rio de Janeiro. Imagem da Internet

A alegria tem sido o tema de muitos tratados filosóficos, peças de teatro e filmes. Também é um grande assunto na Bíblia. O apóstolo Paulo vai ordenar aos filipenses que fiquem alegres, mas a alegria pode ser o cumprimento de uma ordem? Ela tem origem em Deus, no Diabo ou no próprio homem? Ela pode ser ensinada, como se ensina a meditar, a respirar ou a nadar? Existem níveis de alegria? Colocaríamos a alegria de uma pegadinha como nível 1, a conquista de um bom emprego como nível 2 e o nascimento de um filho, nível 3? Seria algo assim? Existiria, neste caso, um nível 7 de alegria?

Existe um subsolo da alegria, quando se alegra com a infelicidade própria ou dos outros, mas não trataremos dele aqui. O nível térreo da alegria é o da realização, da conquista, do esforço. O homem empreende, realiza, e se alegra nisso. Isso explica muito da ligação entre os esportes e a alegria. Não se ganha a partida apenas pela fama ou pelo dinheiro, ganha-se para ficar alegre. Conquista e alegria estão definitivamente relacionadas. Podemos chamar esta categoria de alegria de nível zero, por que comum a todos os seres humanos. Uma quadrilha experimenta alegria porque assaltou um banco, assim também o jovem porque passou no vestibular.

Vamos deixar o debate filosófico e destacar três níveis superiores da alegria numa intrigante palavra do Cristo, registrada pelo Dr. Lucas: “alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” (Lucas 10.20). Observo três alegrias: a da conquista, a da dádiva e a do Espírito. O verso 17 do capítulo citado de Lucas diz que os discípulos de Cristo voltaram radiantes da missão porque tinham percebido o poder de Deus em ação. Há uma particularidade na alegria que os discípulos demonstraram: eles estavam alegres porque os demônios se submetiam a eles “por conta do uso do nome de Jesus”. Então, era um primeiro tipo de alegria: observar como o poder de Deus muda para melhor as realidades decaídas. Onde há trevas, Cristo chega com luz; onde há desordem, a chegada do Evangelho colocar cada coisa em seu devido lugar etc. Observe que esta categoria de alegria já ocorre fora do ser humano. Os discípulos se alegraram porque contemplaram algo, no caso, o poder de Deus.

Ontem à noite, a Lua estava esplendidamente linda. Eu olhei demoradamente para ela e me alegrei. Eu nada fiz para a Lua ficar com aquela beleza toda, mas me alegrei. Recebi como uma dádiva. O Senhor disse aos discípulos que voltaram alegres da missão cumprida e da contemplação do poder Deus em ação: “Alegrem-se, antes, porque seus nomes estão escritos no Céu”. Ora, eles entendiam muito bem que nada tinham feito para terem seus nomes gravados definitivamente no Céu. Era um presente imerecido. Esta alegria, Tipo Dois, parece ser mais rara, mais densa e mais nobre, porque não provoca o orgulho. Eu colocaria aqui, por exemplo, também, a alegria da amizade sincera e, ainda mais, a alegria do relacionamento com a fonte da alegria, o próprio Deus. Neste ponto, precisamos falar da alegria da liberalidade. Quando doamos, experimentamos alegria em um grau mais elevado. Esta é a alegria que sentimos na vitória dos outros. O que Jesus fez foi trazer à consciência dos discípulos a memória de uma segurança eterna, criou neles a imagem de uma vida no Reino de Deus. Mais do que ver a ação de Deus no presente, esta alegria é relacionada à esperança naquilo que Deus ainda fará. Na verdade, isto é definição de fé.

Finalmente, na narrativa do Dr. Lucas há algo ainda mais intrigante. Diz o texto que Jesus Cristo em seguida, verso 21, “exultou no Espírito”. Não foi como se tivesse ganhado um presente, mas como se tivesse sido tomado pelo presente. Ele tinha se recusado a ser possuído pelo Diabo no Monte da Tentação, mas se deixava ser tomado pelo Espírito de Alegria. Isto era algo completamente positivo, um êxtase, uma satisfação da alma. Para ser honesto, era algo indescritível. E qual foi o contexto que fez Jesus Cristo ser tomado pela Alegria? Ele viu a alegria dos discípulos e seus nomes no Céu. Aquele que tinha chorado ao ver o sofrimentos dos amigos e a incredulidade dos homens, agora tem a sua alegria despertada ao ver o futuro eterno dos discípulos. Isto é revelador sobre a fonte da alegria. Ela está fora da pessoa. Alegria é desfrutada principalmente no coletivo, no compartilhamento, na solidariedade. Talvez Deus seja definido com a Alegria por ser trino. O Homem de Nazaré se alegrou na alegria dos seus amigos, ao fazer que outros fossem felizes. Alegrem-se com os que se alegram (Romanos 12.15), ordena novamente Paulo, agora aos romanos. Não é irônico que a luta para conquistar a felicidade pode atuar contra o próprio propósito?

Uma pessoa pode viver, basicamente, pela alegria da conquista. Por ganância, podem sacrificar uma alegria ainda melhor, da amizade, por exemplo. Alguns, por se esforçarem pouco, não se alegram nem na conquista. Outros começam a experimentar a verdadeira alegria ao perceberem a ação de Deus em suas vidas. Como enfatizava um velho pastor: “Felicidade começa com Fé”. Estes são mais felizes à medida que reconhecem, e apreciam, que recebemos mais da vida do que entregamos, talvez na proporção de água em nosso corpo e em nosso planeta. Então, no altruísmo somos um pouco Deus, porque nos alegramos com os outros. Por fim, é na glória de Deus que nos realizamos absolutamente. Ali, na vitória final do Cordeiro, encontraremos, finalmente, a boa parte. Se as alegrias do tipo Zero, Um e Dois entram no ser humano, no caso da alegria tipo Três, o homem é inserido na Alegria. O clímax da alegria está em se perceber dentro da Alegria. Jesus disse ao seus amigos: “Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa” (João 15.11)

Juracy Bahia